Como falar do Natal? De um Natal, nem sei se é possível, são já 30 natais que se vão, e foram tantas pessoas que compartilharam essa data comigo...
Cacei cá comigo algumas lembranças natalinas.
O Natal sempre foi um acontecimento na minha casa, todos nós sempre nos unimos, uma família pequena, éramos sete quando tudo começou, é bem verdade que eu fui filha única por seis anos, até a Cristiane nascer, mas eu não lembro disso, deve ser porque sem a Camila e a Cris minha vida não faz sentido.
Logo cedo éramos acordadas, um cheirinho de assado invadia toda a casa. Comidas eram preparadas sem parar, produção digna de fábrica... Eram duas tortas, feitas primorosamente pelas pequeninas mãos da minha tia, acrescento também que eram inigualáveis; uma ave; uma carne vermelha; um doce; toda sorte de frutas; a famosa farofa fria da minha mãe; maionese; arroz de forno etc. Isso era apenas a ceia, no outro dia, o almoço era outra orgia gastronômica, todos os pratos da ceia e mais uma imensa lasanha, beeeem gorda, como diria minha irmã Camila, que desconhece o significado das palavras diet e light.
Nossa função, como crianças que éramos, era brincar, ou seja, desaparecer até toda a comida ficar pronta... Uma vez que estava tudo pronto, éramos chamadas para tomar banho e era o nosso dia de princesas... Finalmente tinha chegado o dia de usar as roupas e sapatos que namoramos até o Natal. Tudo novinho, cheiro de novo, cores. Era hora de esperar pela meia-noite...
Sentávamos-nos orgulhosas dos nossos cabelos, roupas, sapatos e crentes no aniversário de Cristo, que nos unia todos os anos ali para comemorarmos a data. Em família católica, como a minha, os mais velhos nunca nos deixam esquecer de quem é o aniversariante, único e verdadeiro motivo para estarmos todos ali. Roupas e sapatos novos eram permitidos porque se tratava de uma festa, era hora de agradecer todas as coisas ótimas que tínhamos conseguido ao longo do ano e fazer nossas preces pedindo que em nossa mesa nunca faltasse o pão e que, se possível, todos os nossos sonhos se realizassem...
Depois de comer muito, rezar, era hora de dormir e esperar que Papai Noel depositasse os presentes na janela como todo ano. Eu sempre combinava com as minhas irmãs de ficar acordada para pegarmos o velhinho no flagrante. Separávamos biscoitos para ele comer. Não tinha jeito, era dar uma cochiladinha e lá estavam os presentes. Ele era sempre muito mais rápido que a gente...
O almoço do dia 25 era outra festa, estouro de champagnes, risos, abraços, crianças felizes com os brinquedos novos. Camila e Cristiane em trégua porque era Natal.
A minha avó bebia uma cerveja e champagne, minha tia sempre anunciava que não tomaria seus remédios porque não ia ficar sem brindar no aniversário de Cristo.
Nos abraçávamos, chorávamos, riamos... Enfim, éramos muito felizes...
Prometi para minha avó e minha tia que nunca passaria um Natal sem minhas irmãs, elas me fizeram jurar, isso porque todas as irmãs delas estavam distantes, perderam-se, não sabiam onde cada uma estava. Eu jurei e, neste Natal, me partiu o coração não poder cumprir a promessa, foi a primeira vez que eu não pude abraçar minha irmã Camila na noite de Natal. Problemas da vida moderna...
No Natal, ofereço como conselho as palavras do senhor Baz Luhrmann em seu famoso texto sobre a importância do filtro solar: “Saiba entender seus pais. Você não sabe a falta que você vai sentir deles quando eles forem embora pra valer. Seja agradável com seus irmãos. Eles são seu melhor vínculo com o passado e aqueles que, no futuro, provavelmente nunca deixarão você na mão. Entenda que os amigos vão e vem, mas que há um punhado deles, preciosos, que você tem que guardar com muito carinho”.
Um beijo grande aos amigos queridos, que são poucos, mas eu sei quem são. Um abraço apertado em cada irmã, na minha mãe, no Tony, no novo membro da família, Thiago, seja bem-vindo juntamente com seus filhos lindos. Saudades do meu amor... E meus pensamentos eternamente voltados às pessoas que me fazem lembrar todos os dias que a vida é ótima simplesmente porque eu tenho um teto, o que comer, saúde e gente que me ama, tia e avó...
Amém!