Eu fiquei pensando cá com meus botões em uma historinha de aniversário, já que o meu foi segunda dia 25 de outubro, signo de escorpião, gênio do cão, como diria minha avó que era de virgem, portanto, não tinha moral nenhuma para falar de gênio ruim.
Eu não tive festa de aniversário quando era criança, minha tia sempre combinava comigo: “Flavinha, você quer uma festa ou um presente, porque não tem dinheiro para os dois?”.
Na verdade, não tinha dinheiro para festa nenhuma, às vezes, nem tinha dinheiro para o presente, mas criança é essa coisa boa né? Qualquer coisinha é um presentão, é uma felicidade.
Aliás, ai que saudade da minha tia, que tinha tantas histórias, a melhor enganadora de criancinha que eu conheci. Às vezes, dava até confusão porque ela queria desmentir a mentira para eu crescer logo e eu não queria não.
Eu não era uma criança muito querida na escola se você quer saber, quem me conhece, principalmente aqueles que estudaram comigo e, sabe-se lá Deus por que, mantiveram-se meus amigos, vão lembrar o motivo lendo este texto. O fato é que eu descia o cacete nas crianças por qualquer coisa que eu não gostasse. Eu era muito brava, violenta até, eu diria. Então você já pode adivinhar, eu era CDF e batia nos outros, difícil gostar disso né?
E foi assim até o Ensino Médio. Eu era uma criança muito feia. Todo mundo lá em casa fica muito triste de lembrar que nossas fotos caíram numa enchente, eu não! Eu acho ótimo, acho pena que não caíram todas, minha mãe salvou algumas para a minha infelicidade.
Não posso dizer se fiquei bonita ou não, mas eu aprendi a me arrumar e o corpão que rebentou do nada ajudou muito a melhorar a minha situação. De repente, os meninos que eu cobria de porrada começaram a me olhar de um jeito diferente, e eu para eles...
No Ensino Médio, eu entrei definitivamente para a turminha dos mais populares da escola e isso fez maravilhas por mim. De monstrinha, eu virei a amiga de todo mundo, eram tantos amigos, tanta gente me solicitando. Não que eu não tivesse amigos, eu tinha, e não eram poucos, os do bairro, Guilhermina Esperança, que eu tanto gostava quando era criança. Mas na escola a coisa não era assim.
Eu era muito religiosa, frequentadora assídua da igreja católica, então eu também tinha uma porção de amigos da igreja. Daí eu tinha amigos a dar com pau, porque eram amigos da igreja, da escola, da academia, do bairro, e os do bairro você nem pode imaginar quantos eram. Teve uma época que eu e minha amigas brincávamos de andar pelas ruas dizendo quem morava em cada casa. Pensa que loucura. A gente ia de um bairro a outro a pé e conhecíamos toda a gente e toda a gente nos conhecia. Minha avó e minha tia não gostavam muito disso não, porque esse povo todo ia lá na porta de casa me chamar a plenos pulmões. Não tinha campainha, mas não adiantava ter, a gente gostava de gritar no portão.
Eu nunca tinha tido uma festinha de aniversário, em lugar nenhum, nunca. Durante toda a infância, eu ia às festas dos meus amigos, mas uma só para mim nunca tinha acontecido. Daí, um belo dia, eu cheguei na escola, nem sabia que o pessoal sabia que era meu aniversário, lá na escola, o Gabriel Ortiz, e tinha uma festa surpresa para mim lá no anfiteatro lindo da escola. Gente, vocês nem podem imaginar o que é felicidade na vida. Era um bolo imenso, imenso...
Claro que sempre tem uma filha do capeta que tem uma ideia muito louca, uma das minhas amigas doidivanas me deu um pinto de chocolate. Claro que a tonta aqui teve que abrir o pacote porque todo mundo queria ver todos os meus presentes, mas, ao contrário dos outros pacotes, este continha um pau imenso de chocolate... Ai que vergonha Jesus, todos os professores estavam presentes... Tiraram foto de mim mordendo o danado, quando eu mordi, o diaxo começou a jorrar um líquido branco ainda por cima...
Acabada a festa na escola, eu tinha uma reunião importante na igreja, o próprio padre tinha me convocado. Chegando lá, outra festa, essa com bexigas, flores, presentes e outro bolo.
Olha gente, lembrando dessa história, as lágrimas me vêm aos olhos, acho que foi um dos dias mais felizes da minha vida. Em casa, eu ganhei presentes da minha avó e da minha tia. Foi um dia maravilhoso, eu nem me lembro da idade, acho que devia ter uns 16.
Estes amigos talvez nem saibam da felicidade que me proporcionaram neste dia, mas, apesar de passado tanto tempo, eu agradeço muito a vocês porque essa, certamente, foi a primeira vez na minha vida que eu senti que fazia parte.
A foto aí em cima foi tirada no meu aniversário deste ano, eu e a minha irmã, Cristiane. Neste ano, eu ganhei o maior e melhor presente de todos, o amor da minha vida.