quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aniversário


Eu fiquei pensando cá com meus botões em uma historinha de aniversário, já que o meu foi segunda dia 25 de outubro, signo de escorpião, gênio do cão, como diria minha avó que era de virgem, portanto, não tinha moral nenhuma para falar de gênio ruim.

Eu não tive festa de aniversário quando era criança, minha tia sempre combinava comigo: “Flavinha, você quer uma festa ou um presente, porque não tem dinheiro para os dois?”.

Na verdade, não tinha dinheiro para festa nenhuma, às vezes, nem tinha dinheiro para o presente, mas criança é essa coisa boa né? Qualquer coisinha é um presentão, é uma felicidade.

Aliás, ai que saudade da minha tia, que tinha tantas histórias, a melhor enganadora de criancinha que eu conheci. Às vezes, dava até confusão porque ela queria desmentir a mentira para eu crescer logo e eu não queria não.

Eu não era uma criança muito querida na escola se você quer saber, quem me conhece, principalmente aqueles que estudaram comigo e, sabe-se lá Deus por que, mantiveram-se meus amigos, vão lembrar o motivo lendo este texto. O fato é que eu descia o cacete nas crianças por qualquer coisa que eu não gostasse. Eu era muito brava, violenta até, eu diria. Então você já pode adivinhar, eu era CDF e batia nos outros, difícil gostar disso né?

E foi assim até o Ensino Médio. Eu era uma criança muito feia. Todo mundo lá em casa fica muito triste de lembrar que nossas fotos caíram numa enchente, eu não! Eu acho ótimo, acho pena que não caíram todas, minha mãe salvou algumas para a minha infelicidade.

Não posso dizer se fiquei bonita ou não, mas eu aprendi a me arrumar e o corpão que rebentou do nada ajudou muito a melhorar a minha situação. De repente, os meninos que eu cobria de porrada começaram a me olhar de um jeito diferente, e eu para eles...

No Ensino Médio, eu entrei definitivamente para a turminha dos mais populares da escola e isso fez maravilhas por mim. De monstrinha, eu virei a amiga de todo mundo, eram tantos amigos, tanta gente me solicitando. Não que eu não tivesse amigos, eu tinha, e não eram poucos, os do bairro, Guilhermina Esperança, que eu tanto gostava quando era criança. Mas na escola a coisa não era assim.

Eu era muito religiosa, frequentadora assídua da igreja católica, então eu também tinha uma porção de amigos da igreja. Daí eu tinha amigos a dar com pau, porque eram amigos da igreja, da escola, da academia, do bairro, e os do bairro você nem pode imaginar quantos eram. Teve uma época que eu e minha amigas brincávamos de andar pelas ruas dizendo quem morava em cada casa. Pensa que loucura. A gente ia de um bairro a outro a pé e conhecíamos toda a gente e toda a gente nos conhecia. Minha avó e minha tia não gostavam muito disso não, porque esse povo todo ia lá na porta de casa me chamar a plenos pulmões. Não tinha campainha, mas não adiantava ter, a gente gostava de gritar no portão.

Eu nunca tinha tido uma festinha de aniversário, em lugar nenhum, nunca. Durante toda a infância, eu ia às festas dos meus amigos, mas uma só para mim nunca tinha acontecido. Daí, um belo dia, eu cheguei na escola, nem sabia que o pessoal sabia que era meu aniversário, lá na escola, o Gabriel Ortiz, e tinha uma festa surpresa para mim lá no anfiteatro lindo da escola. Gente, vocês nem podem imaginar o que é felicidade na vida. Era um bolo imenso, imenso...

Claro que sempre tem uma filha do capeta que tem uma ideia muito louca, uma das minhas amigas doidivanas me deu um pinto de chocolate. Claro que a tonta aqui teve que abrir o pacote porque todo mundo queria ver todos os meus presentes, mas, ao contrário dos outros pacotes, este continha um pau imenso de chocolate... Ai que vergonha Jesus, todos os professores estavam presentes... Tiraram foto de mim mordendo o danado, quando eu mordi, o diaxo começou a jorrar um líquido branco ainda por cima...

Acabada a festa na escola, eu tinha uma reunião importante na igreja, o próprio padre tinha me convocado. Chegando lá, outra festa, essa com bexigas, flores, presentes e outro bolo.

Olha gente, lembrando dessa história, as lágrimas me vêm aos olhos, acho que foi um dos dias mais felizes da minha vida. Em casa, eu ganhei presentes da minha avó e da minha tia. Foi um dia maravilhoso, eu nem me lembro da idade, acho que devia ter uns 16.

Estes amigos talvez nem saibam da felicidade que me proporcionaram neste dia, mas, apesar de passado tanto tempo, eu agradeço muito a vocês porque essa, certamente, foi a primeira vez na minha vida que eu senti que fazia parte.

A foto aí em cima foi tirada no meu aniversário deste ano, eu e a minha irmã, Cristiane. Neste ano, eu ganhei o maior e melhor presente de todos, o amor da minha vida.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Esconde-esconde

Eu adorava me esconder. Acho que era uma das minhas brincadeiras favoritas, o esconde-esconde, também adorava as brincadeiras que envolviam correr, acho que no fundo do que eu gostava mesmo era de vencer. Ser sempre a vencedora, nunca aceitava o segundo lugar.

Eu tinha um talento natural para me esconder, ou não tinha juízo mesmo. Outro dia eu vi uma notícia sobre uma menininha que se escondeu na máquina de lavar roupas e o irmãozinho foi até lá e apertou o botão e a irmã morreu, que coisa! Lembrei do dia que eu também me escondi na máquina da mãe da minha amiga, por sorte ninguém apertou botão nenhum. Sabe dessas máquinas que têm a abertura na frente? Era dessas, e a gente nem alcançava os botões direito, graças a Deus!

Em um outro dia, eu me escondi dentro de um bauzinho, também na casa de uma amiga, nós – eu, ela e as primas – estávamos brincando na enorme casa do sítio dela e eu tive a ideia de me esconder no baú de madeira. Eu era bem pequena e magrinha, então entrei no baú e fiquei só ouvindo o burburinho, o pessoal todo atrás de mim. Até que elas desistiram e resolveram chamar as mães porque eu nunca aparecia. Daí eu pensei “eu ganhei, já posso sair”, mas não dava, eu estava presa. Então, eu comecei a gritar desesperadamente e ninguém me ouvia. Depois de muito desespero, a mãe da minha amiga me desencaixou, mas foi um sufoco, elas até me fizeram jurar que nunca mais me esconderia em um lugar como aquele. Me falaram sobre o perigo de eu não sair e ter que ir ao hospital.

Eu jurei que nunca mais ia me esconder num lugar tão apertado. Você pode imaginar quanto tempo durou a promessa né? Eram outros tempos, hoje, se me ameaçam com uma ida ao hospital, eu logo desisto da coisa.

Sem contar que ninguém gostava de brincar de esconde-esconde comigo, então era ótimo quando apareciam umas amiguinhas novas que não sabiam que eu ia me esconder num lugar doido que nem aquele, como as primas da minha amiga.

O meu primeiro esconderijo mirabolante foi uma árvore muito frondosa que tinha na minha rua, eu subia lá e ficava escondida no meio das folhas, mas tinha que ser noite, senão dava para ver. Quando eu fiquei menstruada, minha avó me alertou para o fato de que eu era uma moça, portanto, não podia viver por aí trepando em árvores. Depois vieram guarda-roupas, freezers, geladeiras, lajes etc.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Piolhos

Desapareci devido ao Festival SWU, que roubou todas as minhas forças.

Refeita retorno.

Eu tenho um pouco de medo de contar essa história porque não sei se ainda podem prender minha mãe pelo que eu vou contar, espero que não. Mas é que lembrei daquele caso do jogador Edmundo, animal, lembra? Sensação do Palmeiras em um passado que parece tão distante agora. Em pensar que eu fiz um comercial de cerveja com o Edmundo há tanto tempo atrás, e nem de cerveja eu gosto até hoje. Então, mas é que lembrei que o Edmundo, no aniversário do filho, deu cerveja a um macaco e foi preso, claro não pode.

Bom, mas acho que não vai dar nada para a minha mãe não, se isso foi crime, já prescreveu faz tempo!

Sabe como são irmãos né? Quando um tem uma doença, ou qualquer coisa que pegue, todos têm junto. Fica todo mundo ruim, às vezes, todos de uma vez, às vezes, um por vez. Como eu não sou mãe ainda, não sei o que é pior. De longe, me parece, que um de cada vez deve ser menos complicado.

Fato é que eu e minhas irmãs, as três, pegamos piolho, todo mundo com o diabo da praga na cabeça, e não havia Cristo que retirasse aquilo dali, sabe por quê?

Porque piolho é uma desgraça, você limpa um filho e ele fica lindo, limpinho, daí vem o danado do outro filho e passa piolho para o limpinho, e assim vai indo. De forma, que não tinha como exterminar a praga de uma vez. Se você tem irmãos de idades próximas à sua, você sabe do que eu estou falando. E não tinha esse remédio chique que agora passam na cabeça de todos os filhos em um único dia e sai tudo, imagina, hoje tem até pílula que você toma e os lazarentos caem durinhos. Pois é, não tinha, os remédios disponíveis não matavam tudinho, só os piolhos, as lêndeas continuavam por lá, prestes a despontarem em piolhos novinhos, repondo rapidinho a cambada assassinada.

Então, em um fim de semana, em casa de minha mãe, ela teve uma ideia, uma ideia dessas brilhantes que mãe jovem sempre tem!

Minha jovem e inexperiente mãe colocou um remédio para barata (está aí uma coisa doida, todo mundo falava remédio para barata, mas não é, não é mesmo? Se fosse remédio, a barata ficava forte e saudável e não morta, né?), desses que vinham em pozinho, nem sei se existe mais isso, mas existia, em nossas cabeças. Amarrou bem forte com um lenço e deixou um tempinho. Isso mesmo, colocou veneno de barata em nossas cabeças para matar os piolhos, oras, raciocínio lógico, se mata barata, claro que ia matar piolhos também. Essa estripulia foi dica de uma amiga mais sabida, que já tinha feito isso e tinha dado certo.

Era para deixar bem pouquinho na cabeça, logo estávamos todas tontas, principalmente a Camila, a mais nova, que era magrinha que nem um gravetinho, imagina, a bichinha ficou ruim rapidinho.

A sandice da minha mãe matou os piolhos mesmo, quase matou a gente também. Mas matou todos os piolhos e lêndeas de todas as filhas de uma só vez.

E aqui não há nenhum julgamento, ainda que possa parecer, pois não cabe a mim questionar aquilo que minha mãe fez. Afinal, quantas das coisas que nossas mães faziam e que hoje dizem que mata? Tudo faz mal, as crianças de hoje não podem nada, são criadas dentro de apartamentos, jogam bolinha de gude no tapete, nunca esfolaram o joelho ou arrancaram o tampão do dedo... Como dizia a minha avó, as crianças de hoje são feitas de merda. Mas mesmo assim, é bem provável que eu crie meu filho dentro do apartamento também.

Por falar da minha avó, mesmo deixando eu fazer muita coisa, ela sabia que veneno mata, então você não pode imaginar a cara e a gritaria dela quando eu cheguei em casa e soltei: “A gente não tem mais piolho, a mãe colocou remédio de barata na nossa cabeça, morreu tudinho!”.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cristiane, a Minancora e uma declaração de amor


Em algum lugar, eu ouvi dizer que os irmãos são nossos laços eternos com o passado, ou seja, quando ninguém mais lembrar do ser humano que você foi – divertido, animado, cachaceiro, arteiro, e outras tantas qualidades ligadas essencialmente à juventude – os seus irmãos se lembrarão e rirão muito de todas as histórias mirabolantes que vocês compartilham a cada vez que ela for novamente contada.

Contar de novo é sempre uma forma de rememorar, de reviver e, principalmente, de presentificar o passado. Um teórico do pós-modernismo nos diria que vivemos em uma época atemporal e que por isso tudo parece sempre ontem. Talvez tenha razão, mas fato é que viver, como diria a minha querida Clarice Lispector, ultrapassa qualquer entendimento, por isso não cabe aqui grandes explicações e teorizações, o que eu sei é que trazer o passado à baila novamente é um poder ligado aos irmãos.

Então lá vai mais uma historinha.

A Cristiane era pequena, claro que era, porque quem com juízo iria fazer a doidice que vou contar a seguir. Em alguma época da sua vida, você já deve ter visto um parente, ou você mesmo, passando a famosa pomada Minancora nas espinhas. Pois é, esta que vos fala besuntava a cara da dita pomadinha todo dia antes de dormir, ardia que era uma desgraça, mas as danadas das espinhas diminuíam, eu passava só no local daquelas coisas.

Cristiane me pergunta: “Flá, para quê serve passar isso na cara?”

- Serve para tirar as espinhas e deixar a pele mais bonita.

Cristiane: “Hummm...”

Horas depois. Cristiane me aparece branca que nem um fantasma, a cara lotada da pomadinha, que quem conhece sabe, é difícil de remover e arde.

Eu: “Por que você fez isso Cris?”

Cris: “Para ficar com a pele bonita”.

Eu: “É Cris, mas isso derrete a pele, eu passo para derreter minhas espinhas”.

Muitos gritos e choradeira depois, eu retirei a pomada com papel e o rosto dela, como você já deve ter previsto, não derreteu, isso porque a pomada arde, mas não derrete nada não.

A Cris devia ter uns seis ou sete anos quando isso aconteceu, mas esta não é uma das histórias sobre si de que ela goste. O que sabemos é que, após este dia fatídico, Cristiane Joplin nunca mais foi vista perto de uma Minancora.

O rosto dela, como você pode perceber, é perfeito. Aliás, ela é linda por dentro e por fora.

Cristiane é dessas pessoas, como no poema de Maiakóvski:

(...) “Nos demais - eu sei, qualquer um o sabe!

O coração tem domicílio no peito.

Comigo a anatomia ficou louca.

Sou todo coração – em todas as partes palpita. (...)

É tanta sensibilidade, tanto talento, tanto brilho, tanto amor, tanta revolta porque nem todos nasceram como ela que, quando tudo isso palpita de uma vez, parece que ela vai explodir, mas não vai.

Ama Godard, Truffaut, tem ouvido bom para música, é boa leitora, não aceita menos que dez na faculdade e, principalmente, peita o mundo quando alguém tenta dizer que ela não se encaixa. Sim, ela não se encaixa, isso porque ela é melhor que a média e querer compara-se a ela é besteira, ela é diferente de tudo que você já viu, e, com apenas 23 anos, ela é mais brilhante que muita gente com mais décadas de vida, isso porque ela é a combinação da beleza da juventude, com o exótico, com a ingenuidade e a inteligência.

Eu poderia ficar horas falando das qualidades das minhas irmãs, mas, por hora, para resumir o que é a Cristiane, se é que é possível, ela é assim: você levará algum tempo para gostar dela, mas, uma vez que ela tenha te cativado, você levará toda a eternidade tentando esquecê-la.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Até logo

O último post saiu sem graça que só, isso porque foi minha despedida do trabalho naquele dia. Trabalho no qual eu passei cinco anos da minha vida, imagina o quanto eu gosto das pessoas de lá então. Sabe que o gostar é sempre uma troca? As pessoas gostavam de mim, mas isso porque, de verdade, eu adoro muito aquelas pessoas. Gostar é uma doação verdadeira, só dá certo se é real. As pessoas percebem quando não é para valer, quando se está fingindo, daí não dá certo.

Eu tive festa e um lindo presente de despedida, meus amigos queridos, alguns de anos, outros de um tempo mais recente, me deram um adeus cheio de saudade, de sentimentos bons. Eu sei que cada pessoa naquela sala deseja o meu melhor.

Agradeço muito a festa e o carinho de cada um, é muito gratificante poder contar com o amor das pessoas. Poder fazer algo pelos amigos é também algo sensacional, saber que você mudou a vida de alguém, às vezes é só porque você apresentou um escritor, que diz coisas com as quais aquela pessoa se identifica. Às vezes, é porque você se importou em um dia que parecia que ninguém mais se importava. Às vezes, e essa é a melhor das satisfações, é só porque você existe, porque as pessoas se sentem felizes de dividir o seu espaço com você.

A Marlene, uma copeira de quem eu gosto muito, disse que eu farei muita falta por levar alegria onde quer que eu vá. Eu não posso nem pensar nisso que já me dá vontade de chorar, porque é isso mesmo, apesar de ter que deixar meus amigos, eu posso levar essa alegria, a minha dedicação, o meu profissionalismo, os meus saberes a outro lugar, além, é claro, de ter a chance de aprender coisas novas. E os amigos que eu fiz na APCD são para sempre, estes e outros que passaram, creio eu.

Portanto, Tania, Cris, Thiago, Josy, Mauricio, Caio, Malu, Douglas, Marcão, Mariana, Lucia, Karine, Sheila, Priscila, Gustavo, amigos queridos, presentes diários, alegria de toda a manhã e de todas as horas, a emoção não me deixou dizer naquele dia, muito obrigada por tudo.

Obrigada pelo carinho, pelos sorrisos, pelas confidências, pela companhia, dizem que cada pessoa que passa pela nossa vida leva um pouco de nós e deixa um pouco de si. Tenho muita certeza disso, assim como sei que cada pessoa detestável logo é esquecida.

Desejo uma boa vida para todos vocês, que tudo de bom possa acontecer a cada um de vocês, se precisarem de mim, sabem onde me encontrar, mas, se não precisarem, procurem assim mesmo, porque eu adoro muito vocês.

“Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão” (Carlos Drummond de Andrade)

Um beijo e muito bem

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

What a feeling



Fiquei pensando em uma historinha legal para contar, e que fosse mais sobre mim, já que minhas irmãs logo vão ficar bravas com tantas histórias delas.
Desde muito pequena eu gostava de esportes, dança, sempre adorei dançar...
Então, eu fazia balé e jazz (a dança) quando era pequena, eu só tinha roupas vermelhas, muitas mesmo, porque minha avó e minha mãe adoravam vermelho e achavam que eu ficava linda de collant vermelho. Logo, eu tinha muito collants vermelhos, e eu sempre me exercitava em casa, à la Flash Dance.
Eu já havia dito a vocês que cuidava das minhas duas irmãzinhas, pois é, então eu vestia as duas com os meus collants vermelhos e fazia elas fazerem os exercícios junto comigo. Era uma diversão. A Camila era muito pequena, mas não aceitava ficar de fora, colocava o collant, que ficava imenso nela e ficava saltando com seu meio metro de altura. A Cris não gostava muito, mas achava divertida a ginástica em família.
Imaginem duas criancinhas dançando de collants, polainas e, às vezes, faixa na cabeça. E tudo isso tinha hora marcada, sempre por volta de três da tarde. Quando tinha sol, era no quintal, porque com essa idade a gente não tem vergonha de nada, só quer ser feliz, eu levava o rádio para o quintal, ligava na tomada da cozinha, a gente dançava, ria, e, quando estava muito calor, a gente finalizava com um bom banho de tanque, imagina, nós cabíamos, as três, dentro do tanque.

Viver é bom demais, mas quando a gente é criança é muito melhor...