sábado, 29 de janeiro de 2011

Camila

Uma historinha bem curtinha... Minha outra irmã, Camila, está na cidade, então uma lembrança muito linda me veio nestes dias.

Uma vez eu queria andar de patins, mas eu tinha muito medo de cair e quebrar os dentes, como minha avó dizia que ia acontecer, então a Camila se colocou de perninhas abertas, bem esticadas e disse:

- Pode vir Flá! Vem que a gente seguramos.

A gente era ela e a Cris, quatro e cinco anos. Claro que eu e minha tia caímos na risada, aquele cotoquinho de gente achando que segurava alguém.

Ela não podia, mas queria, de verdade, me segurar. É isso que importa.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O arco-irís

- Vóóóóóóóóóóóóóóó...

- Que foi menina? Tá maluca?

- Vem ver o arco-íris, vem ver vó que lindo...

- Vem já pra dentro menina, deixa esse arco-íris aí.

- Oh vó, eu não vou entrar, eu vou ficar aqui, eu não podia brincar porque estava chovendo. Agora, por que eu não posso brincar, a chuva já passou?

- Ai que menina teimosa da minha vida, malcriada, me obedece e vem pra dentro.

Meio a contragosto eu entrei.

- Flávia, eu não quero você na rua quando tiver arco-irís...

- Oxente, quem já viu uma doidice dessas, o que é que tem o arco-irís?

- É perigoso, eu sou adulta, eu que sei.

- Vó, eu nunca vi ninguém ter medo do arco-irís, já vi ter medo de raio, de trovão, que faz barulho. Lembra da minha amiga Renatinha que desmaiou achando que o trovão foi a loura do banheiro, em plena sala de aula? Mas arco-irís, essa eu nunca vi. Quando minha tia chegar eu vou perguntar pra ela por que diabos você tem medo de arco-irís.

- Ah menina, eu não quero que você pergunte nada pra sua tia, você acha que ela sabe mais que eu?

Outro dia na rua... Tinha acabado de estiar, minha avó entra na bomboniere do Faustão, eu não achei ruim, fiquei lá comendo a bomboniere toda enquanto minha avó conversava com ele.

- Oh vó, vâmo embora, vai começar a Xuxa (passava à tarde no canal Manchete, veja você quantos anos faz isso. A Xuxa agora é uma senhora, o canal nem existe mais e essa TV era preto e branco e tinha que esperar “esquentar” para funcionar).

- Espera um pouco...

- Não vó, vai começar, eu vou perder. Ahhhhhh eu já sei, você tá com medo do arco-irís... Oh Faustão (apelido carinhoso que eu dei para o dono da bomboniere, pensa que loucura, agora o Faustão é magro), você sabia que minha avó tem medo de arco-irís?

Minha avó não era mulher de ter medo de nada, foi só eu dizer isso que ela pagou o Faustão e saiu me arrastando pelo braço.

- Oh menina linguaruda. Quem mandou você contar pro Faustão isso? É segredo, segredo entendeu? Você tem que me jurar que não vai contar pra ninguém... A vovó é sua amiga, você não sabe que não pode sair falando dos medos dos outros por aí? É feio, já pensou se eu conto para as pessoas que você tem medo de espírito? Todo mundo vai rir de você...

- Oh vó, mas espíritos existem, eles aparecem no escuro, mas no arco-irís não tem nada...

- Claro que tem, é só você achar o final dele...

- Hein? Dkj#ahalh... O que tem o final dele?

- Não interessa e você não vai lá ver porque eu não vou deixar.

Entramos em outra lojinha para esperar o arco-irís sumir e eu perdi a Xuxa... Hunf!

(saudades eternas da vovó)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Superstições de ano novo




Eu sempre gostei mais de ano novo do que de natal, mas a verdade é que é tanta superstição para cumprir que, quando chega mesmo a hora, eu já estou cansada demais...

Vamos lá para a lista:

1. Não pode, em hipótese alguma, estar vestida com outra cor que não branco;

2. A calcinha tem que ser amarela porque eu não vou ser rica mesmo, eu fiz letras, só para lembrar, então é melhor desejar dinheiro todo ano;

3. Tem que estar com uma coisa emprestada, uma coisa azul e o branco, que eu já tinha dito. Neste ano, ainda que minha irmã Cristiane, que faz aniversário no ano novo, completou 24 primaveras, não saiba, eu botei o anel de pedra turquesa dela e ela estava com a minha bata, então a gente se emprestou coisas, é assim desde pequena. Ano passado eu peguei emprestada a melissa da Camila, que era branca;

4. Tem que comer lentilha, sete colheradas;

5. Tem que comer sete uvas;

6. É imprescindível entrar no novo ano com o pé direito, então, há que se retirar o esquerdo do chão, fico assim que nem saci;

7. No primeiro dia do ano, eu faço tudo que quero que se repita todos os dias do ano, coisas boas, é claro. Então tem que fazer sexo, tem que comer muuuuito bem, agora eu estou falando de comida mesmo hein! Tipo o gnocchi do Roperto, restaurante na tradicional rua 13 de maio no qual almoçamos, ler, assistir filmes;

8. Não pode comer bicho que cisca, ou seja, aves. Porque ave cisca para trás, e o que ficou para trás, ficou. Eu não como o porquinho, que é o que dá certo segundo os especialistas em superstições, isso porque o danado fuça a comida e joga ela para frente, que nem a gente quer que aconteça com a nossa vida. Eu não tenho boas recordações de porcos, quando eu era pequena, um mordeu meu calcanhar, eu dei milho com agrotóxico para ele e ele morreu. Eu imaginei que tinha alguma coisa errada com um milho rosa, mas eu não pensava que ele ia morrer, ele comeu minha calcinha que eu deixei cair e não morreu...

9. Agora tem a superstição moderna, eu mesma que inventei, eu desejo para as pessoas que eu gosto tudo aquilo que eu quero que aconteça para mim, e vai tudo por sms, twitter, Orkut, Facebook, vale qualquer meio;

10. Eu sempre faço alguma mudança na minha vida, seguindo o conselho da minha musa inspiradora Clarice Lispector, e este eu repasso a você leitor porque ainda está em tempo: MUDE! Qualquer coisa, mas mude, é preciso experimentar, a vida é curta...

11. Eu já ia esquecendo, se estiver na praia, é claro que tem que pular as sete ondas e bater um papinho rápido com Iemanjá;

12. Esta última acredito que todo mundo faça, ano novo sem champagne não pode. Não precisa ser champagne de verdade, pode ser qualquer coisa borbulhante que estoure com bastante ruído quando aberto, isso porque é preciso estardalhaço, porque mesmo que seja apenas a troca de um dia para o outro, de repente, parece que há um novo horizonte pela frente. O ano novo é como a mão de Diadorin para Riobaldo em Grande Sertão: Veredas, é a nossa chance de amanhecermos a nossa aurora, pela primeira ou mais uma vez...

Neste ano, pela primeira vez, eu mesma produzi meu ano novo, para mim e meu amor, com jantar tailandês e todas as superstições cumpridas, adivinhem vocês qual dessas acima ele mais gostou... Felicidade e simplicidade até rimam, não deve ser à toa. Lustrando o clichê, que não deve ter se tornado clichê de graça também, quase sempre a felicidade está nas coisas simples, como compartilhar a sua vida com alguém.

Desejo no ano de 2011 muito bem para você que me lê!