domingo, 26 de dezembro de 2010

Semente de tudo, eu vivo a partir de vocês...


Como falar do Natal? De um Natal, nem sei se é possível, são já 30 natais que se vão, e foram tantas pessoas que compartilharam essa data comigo...

Cacei cá comigo algumas lembranças natalinas.

O Natal sempre foi um acontecimento na minha casa, todos nós sempre nos unimos, uma família pequena, éramos sete quando tudo começou, é bem verdade que eu fui filha única por seis anos, até a Cristiane nascer, mas eu não lembro disso, deve ser porque sem a Camila e a Cris minha vida não faz sentido.

Logo cedo éramos acordadas, um cheirinho de assado invadia toda a casa. Comidas eram preparadas sem parar, produção digna de fábrica... Eram duas tortas, feitas primorosamente pelas pequeninas mãos da minha tia, acrescento também que eram inigualáveis; uma ave; uma carne vermelha; um doce; toda sorte de frutas; a famosa farofa fria da minha mãe; maionese; arroz de forno etc. Isso era apenas a ceia, no outro dia, o almoço era outra orgia gastronômica, todos os pratos da ceia e mais uma imensa lasanha, beeeem gorda, como diria minha irmã Camila, que desconhece o significado das palavras diet e light.

Nossa função, como crianças que éramos, era brincar, ou seja, desaparecer até toda a comida ficar pronta... Uma vez que estava tudo pronto, éramos chamadas para tomar banho e era o nosso dia de princesas... Finalmente tinha chegado o dia de usar as roupas e sapatos que namoramos até o Natal. Tudo novinho, cheiro de novo, cores. Era hora de esperar pela meia-noite...

Sentávamos-nos orgulhosas dos nossos cabelos, roupas, sapatos e crentes no aniversário de Cristo, que nos unia todos os anos ali para comemorarmos a data. Em família católica, como a minha, os mais velhos nunca nos deixam esquecer de quem é o aniversariante, único e verdadeiro motivo para estarmos todos ali. Roupas e sapatos novos eram permitidos porque se tratava de uma festa, era hora de agradecer todas as coisas ótimas que tínhamos conseguido ao longo do ano e fazer nossas preces pedindo que em nossa mesa nunca faltasse o pão e que, se possível, todos os nossos sonhos se realizassem...

Depois de comer muito, rezar, era hora de dormir e esperar que Papai Noel depositasse os presentes na janela como todo ano. Eu sempre combinava com as minhas irmãs de ficar acordada para pegarmos o velhinho no flagrante. Separávamos biscoitos para ele comer. Não tinha jeito, era dar uma cochiladinha e lá estavam os presentes. Ele era sempre muito mais rápido que a gente...

O almoço do dia 25 era outra festa, estouro de champagnes, risos, abraços, crianças felizes com os brinquedos novos. Camila e Cristiane em trégua porque era Natal.

A minha avó bebia uma cerveja e champagne, minha tia sempre anunciava que não tomaria seus remédios porque não ia ficar sem brindar no aniversário de Cristo.

Nos abraçávamos, chorávamos, riamos... Enfim, éramos muito felizes...

Prometi para minha avó e minha tia que nunca passaria um Natal sem minhas irmãs, elas me fizeram jurar, isso porque todas as irmãs delas estavam distantes, perderam-se, não sabiam onde cada uma estava. Eu jurei e, neste Natal, me partiu o coração não poder cumprir a promessa, foi a primeira vez que eu não pude abraçar minha irmã Camila na noite de Natal. Problemas da vida moderna...

No Natal, ofereço como conselho as palavras do senhor Baz Luhrmann em seu famoso texto sobre a importância do filtro solar: “Saiba entender seus pais. Você não sabe a falta que você vai sentir deles quando eles forem embora pra valer. Seja agradável com seus irmãos. Eles são seu melhor vínculo com o passado e aqueles que, no futuro, provavelmente nunca deixarão você na mão. Entenda que os amigos vão e vem, mas que há um punhado deles, preciosos, que você tem que guardar com muito carinho”.

Um beijo grande aos amigos queridos, que são poucos, mas eu sei quem são. Um abraço apertado em cada irmã, na minha mãe, no Tony, no novo membro da família, Thiago, seja bem-vindo juntamente com seus filhos lindos. Saudades do meu amor... E meus pensamentos eternamente voltados às pessoas que me fazem lembrar todos os dias que a vida é ótima simplesmente porque eu tenho um teto, o que comer, saúde e gente que me ama, tia e avó...

Amém!


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O chapéu de batizado


Eu: - Oh mãe... Este sapato não cabe no meu pé, não. Que tamanho é este sapato?

Avó: - Jorgina, este sapato não cabe na menina, de que diabo de tamanho que é?

Mãe: - Eu comprei o número dela, não sei porquê não serve.

Avó: - Você é toda atrapalhada mesmo, nunca vi uma coisa dessas. Você não sabe que pé de criança cresce, não? Ai que pergunta idiota, é claro que você não sabe, você não criou ninguém... Mas é assim, os pés das crianças crescem, se você voltar aqui no fim de semana, o pé da Flávia vai estar maior.

Daí eu já estava ficando com medo, porque ia virar briga...

Eu: - Tá bom gente, eu calço o sapato, nem está tão apertado assim... (Aham, os dedos estavam dormentes com uma hora de uso, eu queria era ter cortado a ponta do sapato)

Todo mundo estava se arrumando, a mulherada produzindo os cabelos.

Eu: - Oh mãe... Você não vai pentear meu cabelo, não? Eu quero fazer um penteado que nem o da Cassiari (madrinha da minha irmã Cristiane).

Mãe: - Flávia, você tem cabelo curtinho, não dá para fazer penteado.

Eu: - Mãe, você me comprou sapato menor que meu pé e não quer pentear meu cabelo? Eu não vou...

Mãe: - Filha, você tem que ir, é o batizado da Tianinha, sua irmãzinha.

Eu: - Mas eu nem fui batizada, por que ela vai ser?

Mãe: - Pára de pergunta, se arruma logo e pronto.

Eu: - Oh mãe, se a Cristiane ficou careca, o que você vai fazer com o cabelo dela? Não dá para colocar nada (um grande mistério da minha infância, como teria minha irmã ficado careca?)

Mãe: - Eu comprei um chapéu para ela, vai lá pegar, a gente vai colocar para ela ir se acostumando...

Eu: - Oh mãe, por que você não comprou um chapéu para mim também, então?

Mãe: - Porque é o batizado da Tiane, o chapéu é caro e quem tem que ficar bonita é ela. No seu, a gente compra um chapéu...

Eu: - Mas até lá eu já vou ter cabelo. Oh mãe, vamos botar uns grampos no meu cabelo?

Ela colocou os grampos e ficou horrível, despinguelou tudo antes de chegar à igreja...

Mãe: - Já colocou o chapéu na sua irmã?

Eu fui lá, com toda a boa vontade do mundo e coloquei o chapéu na Cris, que era Tiane quando era bebê. Depois de alguns minutos olhando para a aba do chapéu na própria cabeça, ela atirou o chapéu branco, que nem um algodão, longe.

Eu peguei o chapéu e coloquei de volta na cabeça dela e ela atirou longe de novo várias vezes... Então...

Eu: - Oh mãe, acho que ela não quer ficar de chapéu, não, e agora?

Mãe: - Flávia, você coloca o chapéu e fica segurando até ela acostumar. (Eu fiz isso, mas ela ficou olhando para cima até eu tirar a mão, e, quando eu tirei, adivinha. Ela jogou o chapéu longe).

Todas as pessoas começaram a discutir que ela tinha que ir de chapéu, que o chapéu tinha sido caro, que sem chapéu não podia, então, eu dei uma solução genial:

- Oh mãe, por que a gente não prende o chapéu com grampo na cabeça dela? (eu achava que grampo era a solução para todos os problemas capilares).

Daí minha mãe perdeu a paciência:

- Oh Flávia, se sua irmã está careca, onde é que eu vou prender o grampo?

Eu: - Ah é né mãe? Eu tinha esquecido...

Fui até a porta da igreja segurando o chapéu na cabeça da Cristiane e ela olhando para cima desconfiada, era só eu tirar a mão e záz... lá se ia o chapéu... Ela não riu nenhuma vez, ela não estava achando graça, não gostou do chapéu e pronto.

Chegando à igreja, eu não ia poder ficar segurando o chapéu até lá no altar, então, assim que soltaram as mãozinhas dela, ela pegou o chapéu e jogou fora no pé do padre. Todos riram muito da primeira vez...

E foi assim o batizado da Cris, eu com dor no pé de morrer e ela com o chapéu que não queria, essa foto aí em cima é dela na porta da igreja. Olha a cara. Veja se isso é cara de quem está feliz. Mas o mais importante, repara na mãozinha, o pai dela está segurando para a foto, e foi assim até começar a festa do batizado. Chegando à casa dos padrinhos da Cris, eu coloquei um chinelo tamanho 40 e poucos, soltei os grampos de uma vez e atiramos o chapéu longe finalmente... ufa!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Roots

- Vó, a professora disse que eu não vou poder vir para a escola até não ter mais piolho.

- Ela disse isso? Mas eu vou deixar você onde? Eu tenho que trabalhar...

- Ela falou que minha cabeça está cheia de piolhos e que isso é nojento, que minha mãe deve ser uma porca, que eu não posso vir para a escola senão vou passar piolho para as outras crianças...

- Ela falou isso? (torcendo o rosto de ódio, ela fazia uma coisa com a boca que deixava todo mundo morrendo de medo, inclusive eu).

- Falou, e não foi só isso, ela pegou um piolho da minha cabeça, me mostrou e falou: “Está vendo isso? Isso é nojento, você não tem mãe, não?” Depois colocou o piolho de volta na minha cabeça.

- Ah... mas ela não fez isso, não! Ela não está louca. Você mostra para vovó quem foi a professora?

- Eu mostro... Foi a Angélica, aquela de cabelo de canecalon... Eu chorei. Todo mundo tem piolho na escola vó, e ela fez isso só comigo.

- Ah... ela fez isso só com você. A gente vai lá falar com ela. Ela vai conhecer sua mãe porca agora.

- Vó, ela é grande... Pelo amor de Deus, ela vai te bater!

- Não se preocupa, a vovó vai só conversar com ela (detalhe, ela saiu me arrastando pelo meio da rua em direção à escolinha).

Chegando à escolinha...

- Aponta para vovó a professora, é aquela ali grandona né?

- É vó, ela mesma!

Minha avó andou em direção à mulher, bateu bem forte com o dedo indicador nas costas dela, que estava batendo papo com as outras professoras no pátio da escola.

- Escuta aqui, você é a professora que tirou um piolho da cabeça da minha neta e botou de volta?

- Não sei do que a senhora está falando. Quem é sua neta?

- Não se faça de idiota, que você sabe muito bem quem é minha neta, ou você tira e coloca piolho em todas as crianças? Eu fiquei sabendo que você fez isso só com a Flávia, eu só queria saber qual o motivo?

- Olha senhora, sua neta está cheia de piolhos, eu não posso permitir que a senhora mande sua neta para a escola essa semana, eu mandei um bilhete explicando (eu e minha avó não sabíamos ler, então, o bilhete não serviu de nada, principalmente depois que minha vó o rasgou e jogou fora).

- Oh minha filha, eu não sei se você reparou, mas quase todas as mães trabalham, ou você acha que eu deixo minha neta aqui 8 horas por dia com uma palhaça que nem você porque eu quero?

- Fica calma senhora, isso acontece, assim que a senhora limpar a cabeça dela, ela volta para a escola.

- Aham, e enquanto isso eu fico sem trabalhar? Você vai pagar as contas? Além do mais eu queria saber uma outra coisinha... Você me chamou de porca?

- Claro que não senhora, imagina...

- Oh Fláviaaaaaaaaaaa!

Eu cheguei apavorada...

- Que foi vó?

- Essa infeliz não falou que sua mãe é uma porca?

- Falou sim...

- Ah... Muito obrigada, era só o que eu queria saber... Pode ir brincar.

- Então dona professora, quer dizer que eu sou uma porca?

- Imagina, eu não ia falar uma coisa dessas...

- Ah, então agora a senhora está dizendo que minha neta é mentirosa, além de porca?

- Não senhora (começando a se afastar da minha avó apavorada).

- Aonde você pensa que vai? Está com medo? Medo de quê?

A mulher deu vários passos para trás apavorada, minha avó andou em direção a ela e grudou no canecalon da mulher até arrancar ele fora...

- Eu vou mostrar para a senhora quem é a porca. Muito valente você, né? Valente com uma criança, agora eu queria só saber onde foi parar toda sua valentia...

Minha avó arrastou a professora pelos cabelos até mim e fez com que ela se desculpasse por ter colocado o piolho de volta na minha cabeça e jurou que se isso voltasse a se repetir, não ia só ser só o canecalon dela que ela ia arrancar, não.

- Eu vou arrancar seus olhos sua lambisgoia. Se você não sabe lidar com criança, vai arrumar outro emprego, e tem mais, amanhã essa menina vem para a escola e você vai aceitar, senão você vai me ver nervosa, porque hoje, você está aí se cagando toda de medo, né? Pois é, e eu nem estou nervosa...