quarta-feira, 30 de março de 2011

Eu tenho uma ideia!

- Oh Davi, eu tenho uma ideia.

- Qual ideia?

- Vamos pintar seu quarto de azul com o resto da tinta da obra?

- Vamos, nossa vai ficar tão legal, vai parecer que eu estou dormindo dentro da piscina.

- Então vâmo aproveitar que seu pai está dormindo. Só tem um problema. Como é que a gente vai tirar os móveis do lugar para pintar?

- Não precisa Flá, a gente pinta envolta, ninguém vai tirar os móveis do lugar para ver atrás...

- Ah então tá bom!

Horas depois, a mãe do Davi chegou do trabalho.

- Oh Walterrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!

- O que é que foi amor? Por que toda essa gritaria?

Neste momento, ele deu de cara comigo e o Davi.

- Ai minha Nossa Senhora. Por que vocês estão azuis?

- Eu não quero nem saber Walter, eu quero que você deixe essas crianças branquinhas. Eu falei para você olhar as crianças, não era para dormir, não.

- Oh gente, como é que vocês fazem uma coisa dessas comigo. Como eu vou tirar essa tinta toda de vocês? O que vocês fizeram com a tinta?

(Eu e o Davi em coro) - A gente pintou o quarto de azul.

(Eu) - É tio, ficou muito lindo, e não sujou muito não.

- Davi, você não tinha um boné, meu filho? Teu cabelo tá todo azul, sua mãe vai me matar (a mãe do Davi adorava o cabelo dele).

Duas horas de banho depois...

- Oh Walter, eu já te falei, eu quero meu filho loiro, como ele sempre foi, eu não quero essa criança de cabelo azul aqui.

- Se não sair, a gente corta o cabelo do menino, não tem problema. Ele é menino mesmo.

- Ai Walter, se esse menino continuar azul, você vai ver o que é que eu vou cortar.

É gente, a infância na ZL foi tensa. Não teve jeito, tiveram que cortar o cabelo do Davi, mas com o tio ficou tudo bem, acho que a tia não cortou nada dele não.

Eu fiquei um pouco chateada porque, depois de toda aquela trabalheira, eu fiquei de castigo sem poder ir à casa do Davi e eles pintaram o quarto de amarelo vômito de novo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A USP

- É o que essa faculdade aí que você vai fazer? Serve pra quê fazer Letras?

- Serve para ser professora, para fazer tradução, para revisar textos de pessoas que não sabem escrever. Sabe? Consertar o que o povo escreve errado?

- Eita, então tu vai ter serviço demais, porque o que mais tem no mundo é gente que não sabe escrever. Tu vai ensinar a ler também?

- Vou sim, eu vou ser professora de português se eu quiser...

- Olha só, que bonito isso hein, eu não sei nem escrever e você vai ser professora... Eu faço muito gosto que você faça essa tal de Letras então, na USPili então, mais ainda.

- Não é uspili, vó. É USP.

- Ah, mas não tem problema, o importante é que não paga e é a melhor do Brasil. As amigas metidas da tua tia disseram aqui outro dia. Disseram que é muito bonito estudar lá. Como é que faz para ir parar lá nesse lugar? Deve de ser muito concorrido, um negócio que é de graça e ainda é a melhor que tem. Nem sei como isso é possível porque tudo que o governo oferece é uma bela de uma merda. O hospital, a escola, nada disso presta...

- Então, vó, eu tenho que estudar o ano inteiro, e, no final do ano, eu faço uma prova, que nem um concurso. São umas 150 mil pessoas para 9 mil vagas...

- Ave Maria, é gente que não acaba mais, credo em cruz! Vai ter que estudar então hein... O que você precisar de mim eu ajudo, pode contar comigo. Eu não conheço ninguém que estudou lá nesse lugar, nunca nem fui praqueles lados, mas se você está dizendo que vai passar. Veja só que grande porcaria, nem para isso a escola do governo serve, só serve pra diploma né? Porque sem diploma não pode fazer faculdade, não é mesmo?

- É sim, vó. Sem diploma, não pode.

- Ah minha neta, que Deus te abençoe então, você vai ser muito feliz na sua vida porque Deus te deu miolos, você tem juízo. Só tem que prestar atenção nesse negócio de namorado, senão embucha e já viu, não vai pra uspili nenhuma.

- Pode deixar vó, eu não vou embuchar...

- Só mais uma coisa. Que diabos é tradução, hein? Essa parte eu não entendi?