Filho de gente rica é assim, contrata-se uma babá que olhará os pimpolhos para que seus progenitores possam trabalhar.
Filho de gente pobre é assim, o mais velho cuida dos outros menores, e os pais vão para o trabalho torcendo para dar tudo certo.
Eu cuidava das minhas duas irmãs, sou apenas seis anos mais velha que a Cris e sete que a Camila. Eu cuidava das duas gracinhas, que eram terríveis. A Cris porque era silenciosa e sorrateiramente estava sempre aprontando, a Camila porque tinha cara de anjo.
Quando eu olhava para a Camila e perguntava se tinha sido ela que fez qualquer coisa, ela me olhava, sorria e dizia: “Eu não, quando eu cheguei já tava assim, foi a fia”.
A fia era a Cris, isso porque em uma época nebulosa, a Camila passou a chamar a Cris de fia, e não havia Cristo que fizesse ela falar o nome da irmã nem certo, nem errado. Eu dizia: “Camila, o nome da sua irmãzinha é Cristiane, fala bem devagar, Cris-ti-ã-ne”.
Ela me olhava, coçava a cabeça, sorria, apontava para a Cris e dizia: “A fia?”.
Eu dizia: “É, o nome dela é Cristiane”. E ela caía na gargalhada. Eu me lembro da cara e do sorriso como se tivesse sido ontem. A Cris toda linda cuidando dela, dava a mão para atravessar a rua, abraçava a irmãzinha mais nova, e a Camila aproveitava para colocar a culpa de tudo nela. Elas têm pouca diferença de idade, mas a Camila sempre foi a dodóizinha, o xodozinho, todo mundo cuidava dela. Em pensar que dia desses a doida resolveu ir embora lá para as brenhas morar com o namorado, que tinha que morar em Ilha Solteira.
Eu sei que você coçou a cabeça, nunca ouviu falar na cidade, pois é, a vida é assim, tem que aceitar, cárcere privado é crime.
Bons tempos, eu fui muito feliz com os meus dois pacotinhos.
Amo vocês, minhas lindas...