terça-feira, 28 de setembro de 2010

Irmãs

Filho de gente rica é assim, contrata-se uma babá que olhará os pimpolhos para que seus progenitores possam trabalhar.

Filho de gente pobre é assim, o mais velho cuida dos outros menores, e os pais vão para o trabalho torcendo para dar tudo certo.

Eu cuidava das minhas duas irmãs, sou apenas seis anos mais velha que a Cris e sete que a Camila. Eu cuidava das duas gracinhas, que eram terríveis. A Cris porque era silenciosa e sorrateiramente estava sempre aprontando, a Camila porque tinha cara de anjo.

Quando eu olhava para a Camila e perguntava se tinha sido ela que fez qualquer coisa, ela me olhava, sorria e dizia: “Eu não, quando eu cheguei já tava assim, foi a fia”.

A fia era a Cris, isso porque em uma época nebulosa, a Camila passou a chamar a Cris de fia, e não havia Cristo que fizesse ela falar o nome da irmã nem certo, nem errado. Eu dizia: “Camila, o nome da sua irmãzinha é Cristiane, fala bem devagar, Cris-ti-ã-ne”.

Ela me olhava, coçava a cabeça, sorria, apontava para a Cris e dizia: “A fia?”.

Eu dizia: “É, o nome dela é Cristiane”. E ela caía na gargalhada. Eu me lembro da cara e do sorriso como se tivesse sido ontem. A Cris toda linda cuidando dela, dava a mão para atravessar a rua, abraçava a irmãzinha mais nova, e a Camila aproveitava para colocar a culpa de tudo nela. Elas têm pouca diferença de idade, mas a Camila sempre foi a dodóizinha, o xodozinho, todo mundo cuidava dela. Em pensar que dia desses a doida resolveu ir embora lá para as brenhas morar com o namorado, que tinha que morar em Ilha Solteira.

Eu sei que você coçou a cabeça, nunca ouviu falar na cidade, pois é, a vida é assim, tem que aceitar, cárcere privado é crime.

Bons tempos, eu fui muito feliz com os meus dois pacotinhos.

Amo vocês, minhas lindas...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Camila e o vestido de caipira


Vamos de historinha curtinha, minha irmã Camila era uma criança muito, muito, muito linda...
A popular do colégio, tem cabelo liso, desses que já acordam semipenteado, sabe como é? Uma coisa irritante... Até de olho azul a filha da mãe nasceu, ainda bem que eles mudaram de cor com o tempo, porque senão ninguém ia aguentar a Camila, que já é pouco exibida.
Um dia, era mês de outubro, ela devia ter entre sete e oito anos, acordou e disse assim para mim e para a nossa avó: “Hoje eu vou com o vestido de caipira”.
Eu fiquei atônita: “Como assim Camila? Nós estamos em outubro, não é agora que se usa fantasia de caipira, é só em junho ou julho”.
Não adiantou ela foi para a escola de caipira, e minha avó disse que era “normal”, “deixa a menina Flávia, se ela quer ir para a escola vestida assim, qual é o problema?”. E lá se foi a Camila com o vestido xadrez, sandálias de plástico com meia por baixo, até pintinhas no rosto eu tive que fazer.
Horas depois, ela voltou da escola e declarou: “É Flá, não era para eu ir vestida assim, todo mundo riu de mim”.
Como você pode ver, ela não anda mais por aí vestida de caipira, e a danada continua bonita!

domingo, 19 de setembro de 2010

De casa nova

Um novo blog, agora o www.flaviuska.com, que meu namorado, gentilmente, me deu de presente. Foi dele também a ideia. Para quem não me conhece, meu nome é Flávia, fiz Letras na minha querida Universidade de São Paulo – USP, bem antes disso eu nasci na Zona Leste de São Paulo, com muito orgulho, é nóis! Fui criada por duas pessoas lindas, minha tia e minha avó, que me ensinaram coisas da vida, umas doces, outras um tanto amargas, mas que me mostraram uma direção, o resto era pela minha conta...

Dizia minha avó: “A gente faz o que pode e torce pra dar tudo certo.”

Também tenho duas irmãs, botãozinhos de flor, sempre desabrochando e trazendo alegria para minha vida. A Cris é a coisa mais doce deste mundo, toda sorrisos, gentilezas... é só coração. A Camila é a irmã palhaça, aquela que faz você rir só de lembrar as “abobrinhas” que ela diz quando está presente, e isso desde que era bebê, ela abriu a boca e já saiu por aí distribuindo “groselhas”.

Tem também uma mãe chorooooona, dramaqueen, mas uma fofura de pessoa, sempre às voltas com seus crochês, artesanatos e um tal de patch... sei lá o que. A minha mãe é casada com o Tony, pai de Camila e Cris.

O meu pai, como a maioria de vocês já deve saber, fugiu...

Daí minha mãe casou com o Tony e ele fez as vezes do fujão, mas foi difícil, eu já tinha cinco quando ele apareceu, e, com essa idade, eu já sabia das coisas.

Agora, vamos refazer meu trajeto: nasci na Zona Leste de São Paulo, estudei a vida inteira em escolas públicas das redondezas, trabalhei em muita coisa, conheci muita gente, vou para a balada muito antes de alguém ter inventado essa expressão, a gente ia ao “salão”, até hoje eu sou festeira; meti na cabeça que estudaria na melhor universidade do país, não apenas por ser a melhor, mas porque é grátis, e eu não tinha dinheiro não, afinal, eu não sei se eu já falei, mas meu pai fugiu, o que dificultou um pouquinho as coisas. Então, eu tive que batalhar um pouquinho, você, caro leitor, pode imaginar o quanto, para ir da Penha até a Cidade Universitária, metaforicamente falando, se é que me entende.

O parágrafo anterior dá uma pequena noção de quem sou, mas sabemos que um ser humano é sempre o produto de infinitas influências, e as minha são muitas mesmo, uma mistureba só, você verá.

Você deve ter reparado que algumas palavras estão entre aspas, pois saiba que elas estão aí porque estas são palavras que eu uso no meu dia a dia com um sentido bem diferente da maioria das pessoas. Muita gente sempre diz que eu tenho um vocabulário próprio e que é, muitas vezes, difícil entender as coisas que eu falo, além de serem muito divertidas. Algumas expressões são recorrentes, como “abobrinha”, outras são conhecidas de um público bem pequeno, como “groselha”, que é sinônimo de “abobrinha”.

Meu namorado, assim como outras pessoas, sempre diz para eu começar a contar as histórias da minha infância, para escrever coisas utilizando este meu vocabulário metafórico, digamos assim. Então resolvi começar, este primeiro post é mais uma apresentação que outra coisa, vamos ver se, das próximas vezes, consigo trazer para cá um pouco das minhas influências, fazendo você rir um pouquinho...