terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Assalto à mão armada

Quando eu era adolescente, eu tinha permissão para ir à matinê da Toco (saudosa Toco na Vila Matilde, lugar onde, o hoje famoso, Marky deu início à sua carreira de DJ). Eu tinha entre 12 e 13 anos quando comecei a frequentar o lugar, que antes já havia sido frequentado pela minha mãe.

Nós éramos, na época, em 15 amigas, mais ou menos, a programação do domingo era vôlei pela manhã, almoço com a família, no meu caso, essa família variava porque eu gostava de comer na casa das minhas amigas, a minha preferida era a da Dona Cida (que sempre falava para as filhas pegarem uma saladeira para ela fazer meu prato, imagina como eu comia pouco), mãe da Adriana, uma das minhas melhores amigas nesse tempo, e por último, para fechar o dia, Toco, de banho tomado e a melhor roupinha dominical.

Nós passávamos uma na casa da outra, depois do vôlei a gente combinava quem ia chamar quem por proximidade, e chamar era dar um gritão no portão, daqueles que fazia estremecer a família inteira. Era uma diversão aquela mulherada toda de braço dado na rua, e nós éramos folgadas pra caramba, porque andando desse jeito a gente fechava a rua. Bastava alguém olhar atravessado para a gente, que uma das meninas já ia lá tirar satisfação, você pensou: Ela não ia?

Não, eu não ia porque eu não tinha tamanho para isso, aliás, continuo não tendo. A pergunta era invariavelmente:

- E aí, nunca viu?

Quando quem olhava era um menino, daí beleza, mas, no geral, era menina.

Eu tinha duas amigas, sem ser a Vanessa e Vanussa, mas com nomes sonoramente combinantes também, Leticia e Lidiane, que eram bravas, mais bravas, você não pode imaginar, sendo a primeira grande e forte, já até trabalhou de segurança.

Uma vez, na volta da matinê, cada uma voltava com seu ficante, então virava uma confusão achar todo mundo para vir embora, a gente combinava de se encontrar no meio da praça que tinha em frente, tal hora.

Mas então, uma vez, voltando da matinê, um sujeito teve a ideia infeliz de assaltar a mim e a Leticia, porque a gente ia e voltava a pé, e não era assim tão pertinho. O sujeito enfiou o dedo por dentro da blusa de moleton e disse:

- Passa a grana e o tênis, rápido, rápido...

A Leticia olhou bem para ele e perguntou:

- Como é que é? Eu não entendi, você quer me assaltar com um dedo dentro da blusa? Você pensa que eu sou retardada?

- Menina, passa a porra do dinheiro...

Eu era beeeeem menor que a Letícia, magriiiiinha, ele não teve dúvida, foi lá e me deu um safanão, mandou eu passar as coisas logo, já que minha amiga era uma folgada e não tinha medo de morrer.

A Leticia falou:

- Ahhhh! E você vai me matar com o quê? Com o dedo?

Nisso, ela agarrou o dedo do sujeito, por fora da blusa mesmo, e torceu, o cara tentou bater nela, mas ela deu uma surra nele, de certo quebrou o dedo dele, chutou a cara dele, bateu a testa dele contra o joelho dela e, para finalizar, mandou ele me pedir desculpa...

- Desculpa aí mano, desculpa...

- É Mané. Quer ser assaltante? Vai comprar uma arma, mas aprende a usar, senão eu te arrebento igual.

Quem já foi assaltado por um sujeito, que tinha apenas o dedo dentro de um blusão, deve ter gostado dessa história. Se todos eles encontrassem uma Leticia pelo caminho hein... Nem preciso dizer que a minha avó achava a Leticia o máximo depois dessa história, me deixou até ir para o sítio com ela e a família, coisa que eu não podia de jeito nenhum.

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